No dia 24 de abril, o site G1 publicou reportagem divulgando dados da procura de atendimento psicológico por parte de profissionais da saúde que estão atuando no tratamento de vítimas da covid-19. Os dados foram levantados pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), que oferece gratuitamente atendimento psicológico para esses profissionais através do programa “Enfermagem Solidária”. Em vinte dias, 2.533 profissionais de todo o país buscaram ajuda.

As queixas são as mais diversas: os profissionais têm tido insônia e dificuldade para dormir, crises de ansiedade, depressão, estresse pela falta de equipamentos, exaustão pelo excesso de trabalho e medo de infectar familiares. Além disso, outra queixa predominante é a tristeza pela morte de pacientes, os quais perdem contato com a família assim que entram na UTI, fazendo com que, dali por diante, os enfermeiros sejam as únicas pessoas com quem têm contato. As mulheres são as que mais procuram ajuda no órgão, correspondendo a quase 86% dos atendimentos.

A partir do dia 27 de abril, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro vai oferecer o projeto “Saúde na escuta” para assistir psicologicamente profissionais da rede municipal de saúde.

Ainda sobre o trabalho nos covidários — áreas de atmosfera altamente contagiosa reservadas aos enfermos da pandemia — e seus efeitos sobre os médicos, a Revista Gama publicou em 26 de abril reportagem com relatos sobre o cotidiano de estresse dos profissionais da saúde. Um dos entrevistados afirmou: “Quando eu estava no Samu ou entrava nas favelas, o medo era muito palpável, real, tinha uma cara. O medo de hoje é o de contaminar meus pais, as pessoas vulneráveis. Ou ficar doente por qualquer descuido. Ou ver meus colegas caírem.”

De fato, o que se percebe pelos relatos é uma espécie de solidão generalizada que, através de iniciativas como a do Cofen, tenta ser debelada. Outra médica entrevistada na  matéria disse que, quando o quadro de um paciente de 80 anos se agravou muito, pediu autorização da clínica e se responsabilizou pela entrada de um dos filhos do paciente no covidário, pouco antes do falecimento.

A Gama retrata também um fato mais amplo da formação médica: o contato precoce com a morte e o sofrimento de pacientes. Ela cita o estudo do psicanalista Silmar Gannam, que escreveu a tese O mal-estar na formação médica: uma análise dos sintomas de ansiedade, depressão e esgotamento profissional e suas relações com resiliência e empatia de 2018. De acordo com o estudo, uma das consequências desse mal-estar é o endurecimento psicológico que se percebe no decorrer da residência: os estudantes chegam sensíveis e saem rígidos, pois percebem que seu desejo de salvar vidas é posto à prova pela impotência diante de certos casos.

A conclusão a que se chega é a de que os profissionais da saúde também precisam de cuidados. “Cuidar de quem cuida é uma noção relativamente nova, mas a saúde mental das equipes de saúde são preponderantes para se enfrentar qualquer crise. Sem direito de serem vulneráveis, estudantes e médicos se tornam cada vez mais doentes — ou, tragicamente, se somam ao alarmante número de suicídios na categoria. […] Para muitos, para além da dor, este [a pandemia] é um momento de reafirmação da vocação profissional. A sensação de que, afinal, ‘eu fiz medicina para isso’.”

Leia as reportagens completas nos sites do G1 e da Revista Gama.