O psicanalista e escritor goiano Wesley Peres já publicou três livros de poesia e dois romances, dentre eles, Casa entre vértebras (Record), vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2007. Seu segundo romance, Pequenas mortes (Rocco), é parte de sua tese de doutoramento em psicanálise, intitulada A escrita literária como autobioficção: parlêtre, escrita, sinthoma¹ (Universidade de Brasília, 2013). Ele afirma que, “em minha vida a literatura precedeu a psicanálise, fui parar nisso de psicanálise porque a psicanálise, como a literatura, está interessada em saber: o que a linguagem faz no homem?; como acontece a mútua criação e perturbação entre homem e palavra?; e, sobretudo, sendo a linguagem aquilo que, por retroação, introduz a morte na vida, por que justamente na linguagem encontramos alguma viabilidade mínima para a vida?”²

Seus escritos não só aproximam psicanálise e literatura, mas também prosa e poesia, conferindo-lhes carga reflexiva e imagética. Outro aspecto característico da sua escrita é a presença do corpo. Por exemplo, Pequenas mortes aborda o efeito que o acidente radioativo do Césio-137, ocorrido em Goiânia em 1987, tem sobre a mente paranoica e o corpo de um músico experimental. O tema também é abordado no livro de poemas O corpo de uma voz despedaçada (Editora martelo). Segundo o autor, ronda em torno do acidente um esquecimento ao qual ele atribui duas razões: a história se apagou pois é um trauma, uma ferida na cidade de Goiânia; a história se apagou pois a população brasileira sofre de uma espécie de Alzheimer, fazendo com que ela lide de forma intensa mas efêmera com eventos coletivos.

Atualmente Peres vive em Catalão – GO, onde exerce a psicanálise e trabalha em seu próximo romance, Cartografia de um doente dos nervos, no qual pretende mostrar como se estrutura o discurso psicótico, sem estereotipar nem romantizar a loucura. “Para alcançar esse objetivo, o principal é o trabalho com a linguagem, fazê-la funcionar no polo da loucura, o que faz com que a obra às vezes se aproxime da linguagem poética.”³ Ele ainda diz que seu interesse fundamental “é pelo que a linguagem produz do corpo, e pelo que o corpo produz na linguagem – as mútuas perturbações, aí está a beleza. Quando essa mútua perturbação ocorre, ocorre uma mútua infecção, a palavra poética é mais capaz de infeccionar, de cravar as unhas da linguagem naquilo que mais somos: o corpo, um corpo, sempre o corpo.”4

REFERÊNCIAS

1 – Tese.

2 – Entrevista para Balaio de Notícias.

3 – Entrevista para o Itaú Cultural.

4 – Entrevista para Balaio de Notícias.

Para a composição da nota, também foram utilizadas as entrevistas para a TV Justiça e para a TV Senado.