As mudanças provocadas pelas medidas de isolamento social para conter a disseminação do coronavírus impuseram aos psicanalistas e aos pacientes uma nova configuração do setting analítico: sem divã e poltrona – dispositivos definidores da psicanálise -, seus praticantes se depararam com sessões virtuais para prosseguirem o tratamento. Com isso, surgiram perguntas sobre o papel do corpo na psicanálise e as incidências do contexto e trauma sociais sobre aqueles que demandam atendimento clínico. Mais, ainda: como a psicanálise pode auxiliar na compreensão do sujeito contemporâneo, premido por dilemas cada vez mais complexos?

Nesse sentido, o livro Psicanálise e pandemia, organizado pelo Fórum do Campo Lacaniano do Mato Grosso do Sul e publicado pela Aller Editora, busca, através de artigos escritos por autores de diversas regiões do país e do mundo, entender como a presente pandemia afetou a prática clínica e a sociedade, estando ambas atravessadas, desde a fundação da psicanálise, pelo luto, mal-estar político e angústia frente às incertezas e instabilidades do mundo. Assim, os autores desta obra se perguntam: o isolamento e suas consequências inseriram na clínica novas questões ou aprofundaram aquelas que já existiam?

Para dar cabo da reflexão, os autores recorreram tanto a textos seminais da formação analítica – como “Luto e melancolia”, de Sigmund Freud, e “O aturdito”, de Jacques Lacan – quanto a obras de arte e a acontecimentos políticos recentes, visando pôr o discurso analítico em circulação na esfera pública e reelaborar sua epistemologia.