Recentemente foi lançada a versão física do livro Do lado de fora: a vida de ex-detentas em Taubaté-SP (autopublicação). De autoria da escritora e jornalista Verônica Monteiro e ilustrado pela artista visual Giovana Macedo, o livro reúne perfis de seis mulheres que foram presas por tráfico de drogas e hoje, em liberdade, seguem suas vidas no município de Taubaté, interior do estado de São Paulo. O PSI+1 conversou com a autora sobre sua relação com as perfiladas, o que a levou a escolher o cárcere feminino como tema de pesquisa, entre outros assuntos.

1 – DE ONDE SURGIU SEU INTERESSE PELO ENCARCERAMENTO FEMININO?

Em 2014, eu trabalhei como professora em uma escola de inglês de Taubaté. Precisávamos de uma nova professora para o período da manhã, então contratamos a Karolyne. Viramos colegas de trabalho, criamos um laço de amizade, compartilhamos situações, risadas, até mesmo choros. Uma vez cheguei para trabalhar e ela estava triste, chorando, perguntei o que havia acontecido e ela começou a me contar sobre sua vida, que já havia sido presa e teve seu filho enquanto estava no cárcere. Ver aquela mulher, na mesma posição que eu, tendo até mais experiência em inglês que eu, foi um verdadeiro tapa na minha cara. Por eu ter sido sequestrada quando criança, cresci com a ideia de que bandido não se recupera, mas ali estava eu, cara a cara com a Karolyne. A Karol me ensinou muita coisa, além de abrir meus olhos para essa realidade que até então eu ignorava.

2 – ALGUMA NARRATIVA SOBRE O CÁRCERE TE INFLUENCIOU ESPECIFICAMENTE?

Com certeza a da Karolyne foi a que mais me marcou e influenciou, foi a história dela que me fez escrever esse livro. Mas todas as mulheres que conheci deixaram também sua marca em mim.

3 – QUAIS TRAÇOS EM COMUM VOCÊ IDENTIFICA NAS HISTÓRIAS DAS NOVE MULHERES?

Todas foram presas por tráfico de drogas, o que me surpreendeu quando estava escrevendo o livro, mas hoje não mais. Hoje eu entendo por que isso acontece. Segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias reunidos até junho de 2016, três em cada cinco mulheres que se encontram no sistema prisional respondem por ligação ao tráfico. São mulheres que, em sua maioria, não tiveram uma base familiar, tiveram que utilizar o tráfico para conseguirem comprar leite para crianças, pagar luz e água que haviam sido cortadas, entre outras situações.

4 – NO PERCURSO DAS ENTREVISTAS E DA ESCRITA DO LIVRO, O QUE MUDOU NA SUA PERSPECTIVA SOBRE AS EX-DETENTAS?

Como eu disse anteriormente, eu tinha essa visão conservadora (e idiota) de que bandido bom é bandido morto, que bandido não muda etc. Conhecer essas mulheres, ouvir suas histórias, me fez realmente abrir os olhos, ver a pessoa humana por trás do crime. É muito fácil julgar, falar que teríamos procurado um emprego em vez de entrar para o crime sem estarmos na pele delas, sem sentirmos e sofrermos o que as levou a tomar tal decisão.

5 – COMO VOCÊ ENXERGA A RELAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA COM SUA POPULAÇÃO CARCERÁRIA?

E tem relação? A sociedade brasileira quer distância. Quanto mais longe da visão, melhor. Claro que existem diversos movimentos de apoio e assistência à população carcerária, mas não vamos ser hipócritas. Basta olhar e ouvir o atual presente do país para ver qual a opinião do povo, já que ele só tem esse lugar porque a população o elegeu.

6 – AS ENTREVISTADAS CHEGARAM A LER O LIVRO? CASO SIM, QUAL FOI A REAÇÃO DELAS AO SE VEREM RETRATADAS TANTO NO TEXTO QUANTO NAS ILUSTRAÇÕES?

Algumas ainda não leram o livro inteiro, mas leram os capítulos em que são perfiladas. A maioria delas se emocionou, me mandou mensagem falando que é totalmente diferente a sensação de conversar sobre o que elas passaram e ler suas histórias como se estivessem de fora. Uma delas me respondeu dizendo: “Agora que li o que você escreveu, não acredito que passei por tudo isso”.

Para conhecer mais sobre a autora e adquirir o livro, clique AQUI.