No dia 15 de maio, o portal G1 publicou matéria sobre o projeto “Oniropolítica em tempos de pandemia”, desenvolvido por pesquisadores de psicologia, psicanálise e neurociência da USP, UFMG e UFRGS sobre os sonhos que profissionais da saúde vêm experimentando durante a atual crise de saúde. Submetidos a grande carga de estresse, os profissionais da saúde se veem diante de um trauma que está deixando marcas em sua estrutura psíquica.

Um dos temas recorrentes nos sonhos é a perda. “Perda do carro, perda do endereço de casa, perda da memória, perda de pessoas, ou ainda, perder-se e não saber voltar para casa”, diz Rose Gurski, uma das integrantes do projeto. “Eles narram que sonham mais, que seus sonhos estão mais vívidos, mais detalhados e que lembram melhor o que sonharam. Há forte angústia, aparecem ambientes com pouca luz, descrição de mal-estar, muitas questões que remetem a incertezas, dúvidas, ausência de possibilidade de controle… sensação de perseguição, traições, falta de confiança nos laços”, completa.

A ideia de coletar os relatos e levantar hipóteses sobre seus significados surgiu a partir do ensaio Sonhos no Terceiro Reich, de Charlotte Beradt, no qual ela coletou relatos de sonhos de alemães sob o regime nazista a fim de entender o que eles poderiam dizer sobre o sentimento social de então. O projeto pretende também analisar sonhos de não profissionais da saúde, pessoas que estão cumprindo as medidas de isolamento social.

Uma matéria semelhante a essa foi publicada no dia 13 de maio no site da BBC de Londres: o diagnóstico também é de que os tempos atuais têm feito as pessoas experenciarem sonhos mais vívidos do que o usual. A psicoterapeuta Philippa Perry pediu que seus seguidores no Twitter relatassem seus sonhos recentes e afirmou que o fato de nos encontrarmos numa nova situação faz com que tenhamos novas emoções a processar.

Os relatos têm como um dos pontos em comum a presença da água, que, de acordo com a experiência de Perry e guardadas as devidas restrições, podem significar o sentimento de aniquilação e esquecimento. Na história da arte ocidental, a primeira pintura que retrata um sonho é Dream vision (1525) de Albert Dürer e mostra uma espécie de dilúvio despencando do céu. Bosch, por sua vez, pintou imagens de pesadelos como que sugerindo que estes são advertências do que a vida pós-morte guarda para pecadores.

No século XVII, Henry Fuseli pinta The nightmare (1781), uma obra que até hoje desafia interpretações, tendo em vista sua falta de referências à literatura, à Bíblia ou à história da arte. O quadro mostra uma mulher estendida lassamente sobre o leito, enquanto um ser sobrenatural com orelhas pontudas está acocorado sobre seu peito, e a cabeça de um cavalo com formas etéreas avança vindo da escuridão. Para a psicoterapeuta, a pintura sugere fantasias sexuais.

A partir do livro A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud, simbolistas enxergavam os sonhos como um meio de liberar a expressão criativa, censurada pela cultura burguesa da Europa. Os artistas buscavam retratar o funcionamento intrínseco ao sonho.

Entre as tantas formas que existem de se interpretar os sonhos, Perry utiliza a terapia Gestalt, que envolve recontar seu sonho a si mesmo do ponto de vista de todos os objetos nele contidos. A ideia é que tudo no sonho é uma parte do sujeito, então este saberá o que eles dizem e assim entenderá melhor a si mesmo.

Para o momento atual, Perry sugere: “Desenhe seus sonhos; escreva-os. Tudo isso te ajuda no processamento da emoção e do sentimento no sonho. Você se apropria deles e depois os controla.”

Leia a matéria completa e veja imagens dos quadros citados no link.