Na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo 2020, uma das peças exibidas foi Stabat Mater (em latim, Estava a mãe), de Janaína Leite. Pesquisadora em foco dessa edição do festival, Leite é uma artista profundamente influenciada pela psicanálise. O título da peça advém de um texto da filósofa e psicanalista búlgara Julia Kristeva. Na última semana, o festival publicou a Revista Cartografias, publicação com entrevistas, ensaios e artigos a respeito das apresentações do festival, além de ter disponibilizado gratuitamente as palestras e debates paralelos às peças.
Leite pesquisa e desenvolve a presença da autobiografia e do documental no espaço cênico. Em Stabat, por exemplo, ela coloca no palco sua mãe e imagens do parto de seu segundo filho, a fim de entender a transmissão do feminino na sociedade e, mais especificamente, de mãe para filha, trazendo à tona eventos pessoais traumáticos, como um estupro que sofreu quando jovem. Porém, na entrevista para a Cartografias, ela afirma que o lugar da peça “é mais o do inconsciente, das sombras, do não dito”.
Em relação à psicanálise, ela afirma: “Eu sou apaixonada por psicanálise desde o processo do Conversas com meu pai. Mas lia muito Freud, Lacan, Winnicott, Gilberto Safra. Foi incrível. Meu mestrado, o Conversas e minhas questões pessoais se misturaram completamente nessas leituras! Mas aí descobri a Julia Kristeva, a Melanie Klein, a Maria Rita Kehl, mulheres psicanalistas… não à toa. Tem a ver com esse feminino que foi saindo das sombras e procurando uma interlocução mais pessoal, por um lado, e por outro, social, na perspectiva de gênero. […] Foi a psicanálise que me abriu a perspectiva de pensar o feminino via o abjeto. Em suas zonas de fronteira, de hesitação, de crise.”
Stabat Mater recebeu em março o 32º Prêmio Shell de Melhor Dramaturgia.
A entrevista completa pode ser lida no link. Abaixo estão os encontros de Leite durante a MITsp:
O corpo da mulher, suas representações e a coragem da verdade
Diálogos transversais: Stabat Mater