O Acompanhamento Terapêutico (AT) é uma prática. Partindo de uma prática, que soma cerca de duas décadas de atuação e transmissão, Clarissa Metzger tece as malhas de seu novo livro A clínica do acompanhamento terapêutico e a psicanálise. O campo de interlocuções em questão vem sendo enriquecido nos últimos anos com importantes publicações, dentre as quais destacamos o recém lançado Acompanhamento terapêutico e clínica do cotidiano de Leonel Dozza Mendonça (publicado por esta editora).

A autora faz uso de uma linguagem fluída e acessível na exposição de suas teses, exemplificando, discutindo casos clínicos, retomando a história e esmiuçando conceitos. Tal qualidade é de grande relevância em um tema de intersecção, pois acolhe, ao mesmo tempo, o psicanalista pouco versado no AT como o acompanhante terapêutico não orientado pela psicanálise. Trata de questões absolutamente atuais, como o at em escolas e na saúde mental, o debate sobre a regulamentação do AT enquanto profissão, a formação do at psicanaliticamente orientado e o AT nos casos de neurose.

O at não é definido por um fazer, tampouco pelo seu caráter itinerante, tal como é compreendida por alguns autores não-psicanalistas. Tal compreensão se ancora no fato de que o AT nasceu como uma prática de extrema importância nos contextos de desinstitucionalização e desospitalização, uma prática caracterizada pelo acompanhamento do paciente nos espaços sociais extra-muros institucionais. Esta característica, entende Metzger, deve ser mantida, o at deve permanecer como aquele “de fora”. Ser de fora, entretanto, não significa estar fora da instituição, mas manter uma escuta singularizada, não institucionalizada. O at se constrói a partir da ética analítica, da transferência e da escuta de um desejo singular, a partir do qual se edificará um projeto terapêutico. Neste projeto pode estar incluída a saída, o fazer e o percorrer itinerante, mas pode ser também que o projeto não contemple tais atividades, pois as errâncias que marcam o AT são de outra ordem, são aquelas ligadas ao reposicionamento subjetivo do acompanhado.

Por fim, gostaríamos de pôr em evidência o expediente utilizado de relatos de casos clínicos. A autora lança mão de vinhetas e relatos que contribuem para a transmissão clínica de suas articulações teóricas. Além de suas próprias experiências, são utilizadas, também, narrativas de supervisão. Esta posição de transmissão articulada a uma clínica é muito bem-vinda no campo, em um tempo em que os relatos de casos se tornam cada vez mais raros.

 

Sobre o Autor:

Psicanalista, mestre e doutorando em Psicologia Social pela PUC/SP. Atua em consultório e como acompanhante terapêutico há mais de dez anos.

E-mail: paulotbueno@hotmail.com